PRINCÍPIOS DA COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA II

Jota Guedes
10 min readFeb 28, 2024

Notas de leitura do livro “A Discussion Of Composition”, de John V. Van Pelt.

PARTE I

  1. Sinceridade e verdade são as principais leis da arte.
  2. Ruskin, nomeia três tipos de fraudes na arquitetura: a) A sugestão de estrutura e suporte sem função real; b) Pintura de superfície que emulam materiais naturais; c) Uso de materiais fundidos ou feitos por máquinas para qualquer tipo de ornamento.
  3. Ex. : Alguns arquitetos insistem na ideia de que não é possível elevar o padrão de beleza de um edifício cujas paredes não aparentem ser de pedra rusticada, mesmo que a fina espessura das mesmas, vista pelas aberturas das janelas, denunciem a falsidade.
  4. Caráter, em arquitetura, significa: a) a individualidade da obra, carregada pela força do artista; b) O edifício deve expressar aquilo para o qual foi construído.
  5. O caráter de uma bela composição se realiza, antes de sua concreção, na mente do artista (ex. : não falhamos em reconhecer a diferença de sentimento entre a balaustrada da tribuna na “Salle des Cariatides” no Louvre, e as figuras de Jean Goujou que as suportam.
  6. O verdadeiro artista usa referências sem tentar ocultá-las, evitando o “plagiarismo”. Ao mesmo tempo é tão comovido pela sua interpretação dos precedentes que não há razão para insistir na referência explicita.
  7. Individualidade artística não é sinônimo de inovação.
  8. A individualidade artística não deve servir como desculpa para se descuidar do desenho, proporção e composição. Apesar de que, como o expressado por Mayeux, uma dose de dissonância também é um recurso usado pelos mestres:
  9. “Esta forma livre de proceder, semear aleatoriamente sobre as formas de flores, frutos, pássaros ou figuras, sem levar em conta, na maioria das vezes, nem a curvatura das superfícies, nem as arestas que limitam os planos, mostra uma ausência que a maioria da fatura brilhante não pode substituir. Se toleramos um decorador pesado e banal do século XVII, graças à ciência com que sabe regular as suas composições, não podemos admitir um artista japonês sem o demónio no corpo.”
  10. Aparentemente composição arquitetônica abrange dois extremos: o útil e o ideal.
  11. O temperamento vacilante é uma falha artística: ex.: Composições arquitetônicas ambíguas, como as que não são simétricas nem assimétricas, são ruins.
  12. A simplicidade na arquitetura significa: detalhes universalmente legíveis; que as fortes impressões sejam causadas à primeira vista, por uma compressão imediata do conjunto.
  13. Clareza significa: a) a interpretação da obra não deve chamar mais atenção que ela mesma. b) detalhes devem coexistir com a composição geral de modo que a emoção seja dada pelo todo, e não por um aspecto importante engendrado apenas pelo pormenor.
  14. Deve-se ter respeito e amor pelos ornamentos. Todo cuidado reservado aos detalhes passam por três aspectos: resguardá-los dos usos que não estão adequados ao que se esperam deles; desenvolvê-los com materiais apropriados; saber sintonizar sua escala e refinamento com a distância em que pode ser observado.
  15. Além de raciocínio, um bom “compositor” deve cultivar a imaginação de todas as forma possíveis. Uma excelente maneira de estudar é dedicar-se a diferentes estilos sucessivamente, criando diversas composições de cada um.
  16. O arquiteto deve ser um mestre do seu lápis: alcançá-lo requer o constante exercício do desenho.
  17. O melhor professor de arte é a Natureza.

PARTE II

  1. Compor significa dosar, através do estudo cuidadoso, diferentes pontos de interesse num todo harmonizado — o que inevitavelmente indica que sempre haverá um ponto de interesse superior, ou principal.
  2. Caráter, estilo, cor e escala são as qualidades abrangidas pela lei da Unidade.
  3. Unidade de caráter não significa um unidade absoluta entre a expressão geral do edifício e individualidade dos detalhes. É natural que um arquiteto se detenha a um pormenor que deseja dar expressão própria.
  4. Estilo é a marca especial de um país ou uma época numa obra.
  5. Mayeux dis: “O estilo, que muitas vezes confundimos com o carácter, é o selo, a marca especial das obras de um país ou de uma época: procurar reavivar o estilo de um século passado é necessariamente desviá-lo, já não estamos nas condições desejadas do tempo e meio, e por imitação caímos rapidamente no pastiche. O estudo dos estilos, excelente para a formação do artista que aprende comparando, só pode servir, se decidirmos exigir mais do que sufocar no seu germe toda a arte e toda a originalidade.”
  6. A maneira mais comum de eliminar vícios e discordância em um desenho é retomá-lo após deixá-lo de lado por um período, e eliminar qualquer nota dissonante imediata.
  7. Escala é uma característica sutil e seu manejo deve ser cuidadoso. Um determinado elemento arquitetônico, ou um edifício como um todo, pode falhar de duas maneira: parecer maior ou menor em relação as partes em redor ou em relação ao que a natureza lhe sugere. Poucos elemento tem tanta flexibilidade de escala como as ordem clássicas cujas matrizes são as colunas.
  8. A boa escala está relacionada com o emprego adequado dos materiais (dimensão dos tijolos aparentes de uma fachada, por exemplo) e ao atendimento das necessidades humanas (como no caso da altura estável dos degraus de uma escada e da altura de segurança de uma balaustrada.)
  9. Alguns elementos requerem que suas versões menores tenha detalhes reduzidos ou eliminados. (ex. : os dentículos de uma cornija principal devem ser eliminados numa cornija subordinada).
  10. Os detalhes, assim como o aspecto geral do edifício, devem ser legíveis a distância de onde o espectador está supostamente a observá-los.
  11. A qualidade de uma composição depende de um número reduzido de pontos focais.

PARTE III

  1. Uma parte da teoria da composição arquitetônica passa pelo estudo da forma e decoração.
  2. No estudo das forma em 2 dimensões, as silhuetas vacilantes (ambíguas) devem ser evitadas: ex. : “Um quadrado deve parecer exatamente quadrado, enquanto retângulos que não são quadrados nunca devem ser quase assim. O mesmo se aplica a círculos e ovais, enquanto um diamante deve ser alongado o suficiente para não parecer um quadrado em um dos cantos.”
  3. A silhueta de uma forma composta por contorno trabalhado deve seguir o mesmo princípio de composição já exposto: a individualidade de cada trecho deve ser reforçada, e havendo a possibilidade de se estabelecer um motivo principal destacado dos demais (subordinação), assim deve ser feito.
  4. A quebra de linha é um valioso recurso para o desenho de contornos compostos, mas seu uso deve ser moderado.
  5. “As leis que regem os perfis das formas de três dimensões são as mesmas que se aplicam às formas que têm apenas duas dimensões. Um dos elementos deve dominar; não deve haver indecisão na escolha da parte (simétrica ou assimétrica); as linhas e formas não devem ser confundidas com outras linhas ou formas; os ângulos não devem ser muito agudos nem muito obtusos, devendo-se sempre observar um bom equilíbrio no uso conjunto de linhas curvas e retas, colocando-se porções concentradas de decoração em contraste com porções uniformes ou não decoradas.”
  6. A decoração pode ser dividida em: motivos que representam objetos e motivos que são combinações de linhas e formas.
  7. Motivos que representam elementos naturais na decoração deve ser “convencionalizados”, que quer dizer, estilizados.
  8. “A arte árabe e a arte mourisca oferecem as melhores fontes às quais o estudante pode recorrer em busca de modelos de decoração impessoal.”
  9. O desenho de motivos decorativos deve levar em consideração 3 situações típicas: a) Quando os motivos não se tocam b) Quando os motivos são tangentes c) Quando se entrelaçam.
  10. Quando motivos não se tocam um motivo de transição deve ser introduzido.
  11. Se os motivos se tangenciam, um “nó” deve ser introduzido. As vezes, os pontos de transições são entidades que circundam o ponto de contado.
  12. É quase um imperativo da percepção visual que estes “nós” de transição criem um efeito de contraste. Ex. : se os motivos se encontram de forma paralela o “nó” deve ter sentido oposto, qual seja, normal (perpendicular).
  13. Os motivos tangenciais podem dispensar nós quando são desenhados de modo que no ponto de contato seja constituída uma continuidade de movimento.
  14. Quando os motivos se entrelaçam os nós são dispensáveis, porém os pontos de contato entre ambos devem formar ângulos retos, ou o mais próximo possível disso.
  15. A atenuação do alto contraste entre figura e fundo, na arquitetura, pode ser exemplificada por ameias trabalhadas [ver o trabalho de Hassan Fathy sobre a arquitetura religiosa]
  16. “Os melhores exemplos de decoração delicada encontram-se em Pompeia, nos vasos gregos, […] no início do Renascimento italiano e francês, e em algumas decorações de Luís XVI. Os estilos do Império, que sucederam à época de Luís XVI, tendem à miséria e à impotência pedantes dos designs modernos […]”.
  17. “É possível considerar o fundo como sendo em si um motivo, ao invés de uma certa quantidade de espaço remanescente.” (Ex. : a decoração Árabe e Bizantina.)
  18. As regras de aplicação de elementos decorativos numa determinada forma deve seguir as peculiaridades sugeridas pela própria forma (as linhas gerais da composição devem ser harmonizadas com a silhueta geral).
  19. Linhas retas que dividem a forma devem ser paralelas ou perpendiculares as geratrizes da forma principal.
  20. Exemplos interessante de decoração adaptada a forma estão nas clássicas molduras decoradas ou na decoração Grega.
  21. Em certo grau, a aparência de um objeto é uma variável quantitativa. Para que uma peça de decoração tenha um efeito de interesse elevado, deve-se colocá-la sobre um fundo o mais simples possível, caso contrário, perderá força.
  22. Estudos ópticos demonstram que uma linha absolutamente reta contraposta a elementos agressivamente contrastantes e repetitivos sofre efeitos capazes de aquebrantar o seu vigor.
  23. As curvas utilizadas pelos Gregos no lugar de retas, como alternativa para correções óticas, são estratégias de desenho que o arquiteto deve conhecer e dominar.
  24. Cuidados especiais com arcos concêntricos devem ser adotados para evitar efeitos indesejados de falsa excentricidade.
  25. Arcos de meia volta devem ser estendidos nos seus pontos iniciais para se evitar a ilusão de leve abatimento.
  26. Casos peculiares são os de linhas radiantes cortadas por horizontais. Um exemplo caro aos arquitetos é o caso dos arcos adintelados: neles as linhas radiais parecem não ter um centro comum, daí a necessidade de correção óptica.
  27. Em certas condições, um quarto pequeno parecerá maior se mobiliado. Assim como uma parede parecerá maior se decorada.
  28. Efeitos ópticos como subdivisões horizontais podem ser contraditas na realidade: se no papel um conjunto de linhas horizontais que resultam num quadrado pode dar a impressão de maior altura, na realidade, uma parede pode parecer mais alta ao ser dotada de ripas verticais.
  29. Efeitos de alto contraste podem acentuar certas ilusões ópticas causadas pelo confronto de silhuetas.
  30. Efeitos de gradação de tons também podem ser usados para o mesmo fim.
  31. Quando pretende-se criar três partições que pareçam ter o mesmo tamanho é recomendado que a partição central seja levemente maior que as laterais.
  32. Isso é devido ao fato de que a disposição de três motivos contíguos gera automaticamente a sobrepujança do motivo central, daí ele aparentar ser levemente abatido quando a correção é negligenciada.
  33. O Estilo é constituído na medida em que um artista oferece o melhor de si para obter o aproveitamento máximo das circunstâncias do seu país e sua geração.
  34. Se estamos dispostos a desenhar estilos históricos, a nossa adaptação deve ser pura e erudita.
  35. “Todos os estilos arquitetônicos dos países civilizados, do clássico ao moderno, parecem-me ter uma possível relação com alguma fase da nossa existência atual. Os da Idade Média, de uma época em que o sentimento religioso estava plenamente desenvolvido, são susceptíveis de serem aplicados a edifícios semelhantes dos dias de hoje; os do início da Renascença podem muito bem ser adaptadas ao trabalho doméstico moderno, enquanto a última Renascença francesa dos Luís está aliada, em sentido, a muito do que se encontra na expressão atual da sociedade. Mas todas estas aplicações devem ser modificadas pela personalidade (naturalmente uma personalidade atual) do arquiteto.”
  36. Deve-se ter em mente que o benefício dos estilos antigos talvez não resida na sua realização contemporânea a qualquer custo, mas no sentido de maestria que o seu estudo transmitirá. Esgotar o estudo de um estilo até o seus mínimos detalhes, antes de passar para outro, é a garantia de que aquele que o faz terá fixado no seu repertório o que de melhor foi desenvolvido pelos gênios de outros tempos. Mas tarde, terá de abandonar a ideia de reproduzi-los, visto que as circunstâncias materiais e espirituais de sua geração já não são as mesmas, porém guardará no seu espírito algo da preciosa lição dada pelos gênios e será o portador de uma educação delicada que alimentará o caráter necessário para desenvolver a sua arte.

PARTE IV

  1. Arquitetos devem ter plena intimidade com o material que manejam nas suas obras, sobretudo conhecer bem os seus aspectos plásticos.
  2. Vitrais, pinturas decorativas, papeis de parede e tapeçaria são trabalhos para profissionais especialmente capacitados, pois requerem o domínio de sutilezas difíceis de manejar.

PARTE V

  1. A composição não diz respeito só aos aspectos visuais de um edifício. A planta-baixa também pode ser tomada em seus aspectos ligados aos princípios gerais da arte compositiva.
  2. As plantas pode ser divididas em duas categorias: plantas abertas das pela silhueta exterior, e planta enclausuradas, dados pela divisão interna de linhas pré-estabelecidas.
  3. Outro elemento de grande influência no desenho das plantas é a condição sobre o qual será implantada.
  4. Os edifícios longos devem ser dispostos a longo das curvas de nível e, quando há uma vista a ser explorada, o conjunto deve ser aberto a essa vista.
  5. Na estética das plantas também devem ser reveladas as hierarquias de valor dos maciços: a exemplo de quando consideramos um ponto focal num edifício composto por diferentes volumes, devemos ter em mente que espaços como auditórios, salas de concertos e afins, devem ser destacados mediante um tratamento matizado dos espaços antecedentes, reforçando a sensação de tensão crescente.
  6. Escadas monumentais que interceptam espaços axiais devem servir como elementos de aproximação ao espaço principal e não de tela a escondê-lo.
  7. Circulações e passagens são fatores de maior importância quando se trata concatenar espaços de diferentes naturezas.
  8. Em muitos casos é interessante que a entrada principal de um edifício tenha o plano destacado.
  9. O conhecimento em geometria descritiva é fundamental para desenvolver o senso de abstração necessária para que o arquiteto expresse com segurança, através de desenhos esquemáticos, aquilo que tem em mente.
  10. As usuais paredes mais grossas das fachadas dão maior impressão de encerramento exterior.
  11. Uma coluna não engajada deve sempre ser acompanhada de uma pilastra para servir de apoio ao encontro interno do entablamento. Disso se deduz que um entablamento deve ter apoios sempre que muda de direção ou é interrompido.

PARTE VI

(nenhuma nota a considerar)

fim

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