PRINCÍPIOS DA COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA I

Jota Guedes
5 min readFeb 23, 2024

Notas de leitura do livro “Principles of Architectural Composition”, de John B. Robinson

  1. A composição arquitetônica não é uma mera coleção de objetos combinados com o proposito de serem agradáveis, apesar da estética ser uma parte central do seu desenvolvimento.
  2. Aspectos utilitários, construtivos e sentimentais são correlativos na maior parte do desenvolvimento do processo de desenho arquitetônico.
  3. O desenho arquitetônico não é resultado de um método unívoco aplicável a qualquer estilo.
  4. Senso estético (ou o ponto de vista artístico do desenho arquitetônico) é um aspecto constante e independente mas não pode ser reduzido a uma ciência exata.
  5. Mesmo sendo possível classificar e analisar algumas operações que sevem de base para um bom desenho, não é possível criar um mestre ensinando regras, e sempre há um remanescente de talento e temperamento envolvido no processo.
  6. Unidade e graça são duas das qualidades daquilo que chamamos de as belas-artes.
  7. A graça é dada pelos detalhes; a unidade é dada pela conformação das partes em relação ao todo.
  8. Dois processos são importantes nos quais as considerações sobre unidade são relevantes: agrupamento e subdivisão.
  9. Composição resume-se na operação de elencar o número de partes dos maciços principais e determinar seu tamanho e forma; o mesmo para os maciços subordinados; e finalmente para os detalhes.
  10. A experiência mostra que as possibilidades fecundas de agrupamento limitam-se a apenas 3 unidades.
  11. Há exemplos de agrupamentos com números de unidades que superam 3. Porém, o senso de definição se perde, e o agrupamento passam a ser apreendido como empilhamento.
  12. A repetição irrestrita de elementos pode ser considerada se as partes repetidas são subordinadas a um elemento de maior relevância (como janelas que se repetem em uma empena ampla)
  13. O agrupamento de duas ou mais partes, sejam iguais ou diferentes, deve evocar um senso de semelhança. Composições determinadas por elementos dispares devem ser evitadas.
  14. Objetos de diferentes tamanhos agrupados funcionam bem quando um deles ganha ênfase, rebaixando os demais à categoria de subordinados. Desta forma, qualquer coleção de objetos pode ser harmonizada (com a ressalva de que os grupos subordinados devem necessariamente constituir pequenos agrupamentos que não excedam o número de 3.
  15. Grupos subordinados aceitam uma certa iniquidade entre si, e esse recurso é o mas acessível entre os utilizados nos tempos modernos.
  16. As partes subordinadas, diferentes dos maciços agrupados, não necessitam de conexões de transição, já que, a massa principal a que está subordinada constitui o pano de fundo sobre o qual as peças subordinadas “pairam”.
  17. Grupos subordinados aceitam a unicidade absoluta, desde que não destruam a importância do maciço principal.
  18. As divisões dos maciço principais podem acontecer no nível dos detalhes, com o uso de pilastras ou contrafortes nas fachadas, ou por meio de partes mescladas como que fundidas em uma silhueta maciça, sem grandes saltos.
  19. Peças subordinadas, quando largamente repetidas, devem ser de número impar, por imprimir mais individualidade e menos continuidade à composição. Isso é devido ao centro do conjunto ser ocupado por uma peça e não um vazio, como é o caso dos conjuntos de número par.
  20. Apêndices (anexos) são unidades menores acrescidas ao maciço principal que não exerçam função de conexão entre partes ou possuam elementos de transição evidentes. Apêndices podem ser constituídos de sub-apêndices.
  21. Apêndices devem ter formas levemente diferentes da peça principal, exceto em casos que exijam a adoção de táticas mais sutis.
  22. Detalhes são importante na medida em que ocupam uma parte significativa do tempo e da habilidade do arquiteto, além de servir para minimizar os efeitos de arranjos questionáveis de massas impostas a nós pelas circunstâncias.
  23. Detalhes estão submetidos às mesmas “regras” dos maciços principais e subordinados, ressalvado o fato de que os mesmos são agrupados por justaposição e não possuem partes conectivas.
  24. Simetria é essencialmente o recurso de agrupamento mais importante dos detalhes.
  25. Há casos em que os detalhes das massas devem ser tratados como que dotados de apêndices (como as janela Palladianas)
  26. O agrupamento de janelas numa fachada é um campo fértil de possibilidades compositivas. Muitos casos de sucesso são reflexo de não mais que a arregimentação delicada e cuidadosa das aberturas numa fachada.
  27. Detalhes são frequentemente dispostos em arranjos de continuidade, o que jamais deve ser feito com maciços principais.
  28. “Quando chegarmos à consideração da subdivisão, descobriremos que predomina o arranjo contínuo; mas mesmo em edifícios em que a horizontalidade não está marcada, existem certas situações que exigem o efeito de continuidade nos detalhes. Essas situações são aquelas em que é necessária a indicação de ligação e não de peças a ligar. Assim, [… ]uma fileira contínua de arcos […] forma uma base unificadora para um agrupamento triplo acima; assim como a massa inferior de um agrupamento principal pode formar uma base para três torres ou três cúpulas sobre ele.”
  29. Subdivisões verticais são frequentemente realizadas por linha horizontais (molduras).
  30. Se a simetria horizontal é bem-vinda, o mesmo não acontece com a simetria vertical.
  31. Numa fachada dividida em 3 partes horizontais, é preferível que essas partes seja significativamente diferentes (em motivos e dimensões). O empilhamento de partes idênticas é aceitável em certas condições (como no caso do uso de um coroamento — cornija — tão vigoroso que unifique as parte em uma entidade concentrada).
  32. Nas divisões em 3 partes, a parte maior deve ficar no meio ou, de outro modo, as partes menores tornar-se-ão uma unidade bipartida, aniquilando a tripartição. Neste caso, o sistema tripartido permite que as partes menores possuam subdivisões, apenas aplicáveis ao plano mediano se constituídas de linhas suaves, cujo ritmo, no caso de uma longa série, seja constante (ver Torre de Pisa).
  33. Quando se trata de proporções arquitetônicas, as leis matemáticas que regem o edifício devem considerar que na maiorias das vezes cada elemento que compõem o conjunto e subconjunto tem sua própria regra de proporção.
  34. As regras de similaridade são o caminho mais seguro para obter relações harmônicas entre as partes de um edifício, tendo em vista que não é possível obter tal resultado a partir de um princípio de proporção unificador, na maioria dos casos.
  35. Regras de reciprocidade aritméticas adotadas nos ensaios realizados com as linhas diagonais de correção da proporção (traçados reguladores) são bem-vindas desde que moderadas pelo bom gosto e observação cuidadosa.
  36. O tratamento de cornijas deve ser especialmente observados devido as suas relações sutis determinadas pela dimensão vertical do edifício.
  37. Nos esboços iniciais, o desenhista dever considerar simultaneamente planta e o caráter geral do edifício.
  38. A habilidade do desenhista consiste basicamente em reconciliar os requisitos práticos com as demandas da beleza.
  39. As vezes, os requisitos práticos são tão rigorosos que, mesmo para o desenhista experiente, a conciliação com a beleza tende a ser penosa.
  40. Tradicionalmente a composição arquitetônica lida com basicamente 3 unidades — a exemplo das fachadas: pelo vazio ladeado por maciços; dos agrupamentos, como no caso da divisão horizontal das fachadas. Parte do jogo compositivo consiste em dar ênfase a um ou outro destes entes.
  41. “[…] o que devemos primeiro decidir quanto a este último ponto, se os objetos devem ser massas principais ou subordinadas, se a composição deve ser uma coisa grande, com várias coisas pequenas sobre ela; ou se será um grupo de coisas de tamanhos variados, cada uma adequadamente relacionada uma com a outra.
  42. A arte de dar unicidade a um edifício está relacionada à um subordinação adequada entre as partes.

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